O Dia
Frequentadores da Lapa voltam a ocupar o lugar dos veículos, o que divide opiniõesRio - “A Lapa de hoje, a Lapa de outrora, que revivemos agora”. Os versos de Paulinho da Viola servem para explicar que o reduto da boêmia carioca voltou ao passado: desde março deste ano que o trânsito na região, proibido nas noites de sexta-feira e sábado desde 2010, está liberado. Cinco meses depois, a mudança não caiu no gosto dos frequentadores, que dividem o asfalto com ônibus e carros.
Com as vias tomadas pelos veículos e as calçadas ocupadas por filas e fumódromos das casas, os pedestres se arriscam e andam entre os carros na movimentada Avenida Mem de Sá. “A Lapa é um lugar de diversão, o trânsito pode ser desviado para outro lugar”, afirmou Pedro Biliono, frequentador da região.
“Agora, o fluxo está menor,até dá para tolerar os carros, mas o movimento vai aumentar e pode ser perigoso”, indicou Pedro Castelo.
A abertura do trânsito na Lapa divide as opiniões dos donos de bares. Para André Albuquerque, gerente do La Esquina Bar, a passagem dos carros “acabou com a confusão na porta das casas, do pessoal que ficava só na rua bebendo”. Entretanto, André acha que os cariocas ainda não se acostumaram a dividir o espaço com carros e ônibus.
“Guardas municipais ficaram aqui em junho, orientando as pessoas a ficarem na calçada, mas depois sumiram. Veículos passam muito perto das pessoas, uma hora vai ter um acidente”, afirmou.
Emerson Ramos trabalha no Nova Capela e prefere o tráfego aberto. “É evidente o aumento do movimento desde março. Os clientes antigos voltaram e novos passaram a vir também”, pontuou.
Em nota, a Guarda Municipal afirmou que possui um efetivo fixo de 91 guardas na Lapa durante os fins de semana.
Calçada usada como área particular irrita pedestres
Moradores da Lapa também estão divididos. Ana Maria Varela, de 66 anos, caminhava pela Mem de Sá, onde mora, mas a calçada lotada a fez mudar de direção. Ela tentou passar, mas esbarrou em outro problema: a área da calçada estava cercada para o uso de fumantes de uma das casas. “Ninguém pode tomar a calçada para si; tenho meu direito de ir e vir”, disse, durante a discussão com segurança.
Lucas Sales mora na Rua do Riachuelo e acredita que a abertura das vias no bairro melhorou o trânsito. “Mesmo assim, é preciso pensar em outra solução para quem vem de carro. A Lapa está muito cheia, e as pessoas ficam na rua. O risco de acidente é grande”, reforçou.
Em nota, a Secretaria Estadual de Ordem Pública (Seop) afirmou que, desde março, emitiu nove multas para bares e boates pelo uso ilegal de grades e correntes que obstruíram a calçada na Lapa.
Os ambulantes irregulares, que agiam livremente quando as ruas estavam fechadas, também foram autuados pela Seop. Desde março, 1.914 itens foram apreendidos, entre bebidas, mesas, cadeiras e carrinhos de transporte.