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Vizinhos do Palácio Guanabara mudam a rotina por causa dos protestos

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Maria Luisa Barros

Pânico diante dos confrontos na porta de casa atinge sobretudo as crianças

Rio - Vizinhos do caos, famílias e comerciantes que estão ao lado do Palácio Guanabara, em Laranjeiras, ou nos bairros próximos à sede do governo estadual, estão tendo que alterar suas rotinas para se proteger da onda de protestos que tomou conta da cidade. Para fugir da ação de grupos radicais que se infiltram nos protestos contra o governador Sérgio Cabral e deixam um cenário de destruição por onde passam, moradores de áreas nobres do Rio já evitam sair à noite, ligam antes para casa a fim de saber como está a situação, mudam o percurso,dormem na casa de parentes, marcam compromisso antes ou depois das manifestações e se abrigam em cômodos da casa distantes das bombas e dos coqueteis molotov.

O pânico diante dos confrontos cada vez mais constantes na porta de casa atinge sobretudo as crianças. Moradora de um apartamento do 1º andar em frente ao Palácio Guanabara, a pequena Gabriela, 8 anos, aprendeu a se proteger no banheiro, único lugar da casa aonde não chega o gás das bombas da polícia. Nos dias de guerra urbana, é lá que ela janta e faz as lições da escola. “Não fui muito bem na prova. É difícil prestar atenção. Fico com medo das bombas”, diz Gabriela, que sofre duas vezes com os protestos. Ela estuda no Leblon, onde manifestantes estão acampados na porta da casa do governador.

“Às vezes a escola antecipa a saída e ela dá de cara com outra manifestação na porta de casa. Estamos reféns do caos”, protesta a relações públicas Luciana Rocha, de 41 anos, que mora na Rua Paissandu, há seis meses.

“Pensei que era seguro, com a polícia na porta de casa. Isso aqui virou Faixa de Gaza”, revolta-se Luciana, que é alérgica e tenta se proteger com pano ensopado de vinagre quando o gás invade a casa. “A sensação é que o rosto está queimando. Não posso receber convidados. Jantar à base de gás?”, critica ela, que nos fins de semana vai para a casa de parentes longe dali.

Barman fica calmo quando filha está em Realengo

Ex-morador da Tijuca, o barman Ricardo Arruda, de 34 anos, evita sair às ruas do Catete com o filho, Caio, de 5 meses, quando há manifestações. A filha mais velha vive em Realengo com a mãe. “Fico tranquilo com ela morando lá”, estranha ele.

Já a aposentada Ivone Miranda, de 71, parou de frequentar uma igreja no vizinho bairro da Glória. “É triste não poder ir e vir”.

Ana Clarice da Silva, de 29, fica preocupada quando o confronto ocorre na saída da escola. “Saio mais cedo para buscar as crianças”, conta ela.

Djana Alencar, de 83, aprova a ação da PM. “Fico feliz quando eles chegam com jatos d’água”, diz a moradora do Flamengo.

Comprovante de residência no bolso

As estratégias de sobrevivência recém adotadas por famílias de endereços nobres da cidade lembram muito o dia a dia de terror dos moradores das favelas não pacificadas. “Quando há confusão, ligo para a minha filha e peço para aguardar na faculdade até acalmar”, diz a consultora de vendas Jô da Silva, 54 anos, moradora da Rua Pinheiro Machado, em frente ao Palácio Guanabara.

Na semana passada, Jô perdeu aula no curso noturno. “Fico com medo de sair à noite”, diz.

Da mesma forma que trabalhadores de áreas violentas da periferia costumam andar com carteira de trabalho ou identidades à mão para provar que não são bandidos, famílias da Zona Sul estão usando comprovante de residência para passar pelos bloqueios montados pelo Batalhão de Choque em dia de protesto. “Policiais só deixam passar pelo Palácio se for morador”, conta.

Bares fechados e shows cancelados em casas noturnas

Não são só famílias que se tornaram vítimas dos confrontos entre policiais e manifestantes. Comerciantes e empresários também tentam se proteger dos danos e prejuízos desde que os protestos começaram. Nos bares da Cinelândia, vizinhos à Câmara Municipal, onde um grupo de ativistas ocupa a Casa há mais de dez dias, a frequência de público caiu 30%.

Nos dias de enfrentamento, a tática tem sido fechar mais cedo e reabrir após a confusão. Lojas e bancas de jornais estão encerrando o expediente antes da hora.

O Teatro Rival, na Cinelândia, tem cancelado e transferido apresentações, como o show da artista Jesuton, que seria realizado no dia 11 de julho. Quem compra ingresso para um dos shows tem que ficar de olho no site da casa noturna, já que a programação pode ser alterada a qualquer momento. Há 40 anos no tradicional Bar Amarelinho, o gerente noturno José Soares, de 61 anos, lamenta a violência. “Nunca vi isso na minha vida. Eu sou a favor de protestar, mas o vandalismo prejudica quem quer trabalhar”, diz.


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