Octávio Costa
No Brasil, a declaração de voto pela imprensa não faz parte da tradição. Passa-se a impressão de equilíbrioRio - Quando o professor Darcy Ribeiro disputou o governo do Rio de Janeiro, um jornalão carioca montou um esquema pesado para minar o vice de Leonel Brizola e ex-chefe da Casa Civil de João Goulart. No lugar dos redatores de política, deslocou para a cobertura da campanha um experiente repórter da área policial. A ordem dos editores era baixar o pau e escrever apenas matérias negativas. Se um comício na Baixada Fluminense estava abarrotado de gente, o fotógrafo caminhava até um canto do palanque e conseguia um ângulo em que apareciam apenas uns gatos pingados. No dia seguinte, vinha notícia: novo fracasso no comício de Darcy. A assessoria de imprensa do pedetista entrava em desespero, mas foi assim até o fim da eleição. Em 1986, o famoso antropólogo Darcy Ribeiro acabou derrotado pelo limitadíssimo ex-prefeito de Niterói Moreira Franco.
Meios de comunicação não são totalmente imparciais na cobertura de eleições. Pela lei, estão obrigados a dar o mesmo espaço aos principais candidatos. Essa é a regra do jogo aqui e na maioria dos países que respeitam a liberdade de imprensa. Nos Estados Unidos, por exemplo, os grandes jornais só declaram o voto nos dias que antecedem o pleito. Mas os leitores sabem quem está com os democratas e quem é favor dos republicanos. No Brasil, a declaração de voto não faz parte da tradição e se tenta passar a impressão de equilíbrio. Nem sempre é assim, como, aliás, ficou claro na derrota de Darcy para Moreira. Outro clássico foi a edição do ‘Jornal Nacional’ sobre o debate entre Lula e Fernando Collor na eleição de 1989. Nenhum dos dois se destacou, mas, para o ‘JN’, Collor fez gato e sapato de Lula.
Embora a eleição deste ano só aconteça em outubro, já se pode afirmar que parte da imprensa não aceita a hipótese de reeleição de Dilma Rousseff. Não haverá uma tomada de posição clara, como se faz nos EUA. Ao contrário, todo um esforço será feito para dar a impressão de isenção. Não se espere que determinado jornal ou determinada revista declarem o voto. Eles vão jurar de mãos postas que estão apenas cumprindo a missão jornalística e revelando fatos que podem auxiliar os eleitores na hora do voto. Mas a balança, como é possível perceber, vai pesar contra a candidata do PT. A ordem de cima será impedir mais quatro anos de Dilma. Faz parte do tiroteio dizer que a candidatura oficial está fazendo água e é ameaçada pelo movimento “Volta Lula” (tendência que perdeu força com as maracutaias do deputado André Vargas).
No momento, a principal munição contra o governo Dilma é a criação da CPI da Petrobras e tudo que gira em torno dela. Costuma-se dizer nas redações que uma foto vale mais do que mil palavras. Basta ver a felicidade de Aécio Neves e Aloysio Nunes Ferreira ao exigir a instalação da CPI exclusiva para concluir que a finalidade é política. Afinal, Aécio é candidato a presidente da República pelo PSDB e Aloysio deve ser seu vice. A oposição sabe que a opinião pública ficou confusa em relação à compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras. Diante do noticiário, alguns acham que o negócio é atual e foi realizado no governo Dilma. Investe-se, então, no ponto de desgaste. Não importa se a Polícia Federal e o Ministério Público estão executando bem o seu trabalho. O que interessa é manter o assunto nas manchetes, se possível até a eleição. Dilma que se cuide.