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Forças vão apurar tortura

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Juliana Dal Piva e Caio Barbosa

No Rio, o ministro Celso Amorim informou que quatro instalações militares que se converteram em centros de tortura na ditadura serão investigadas. Outras três são de São Paulo, Recife e Belo Horizonte

Rio - No mesmo dia em que o povo saiu às ruas para descomemorar o aniversário de 50 anos do golpe mili­tar que depôs o presidente Jango, 1º de abril, as Forças Armadas anuncia­ram que vão investigar os casos de tortura em sete unidades militares na ditadura: quatro no Rio, uma em São Paulo, Belo Horizonte e Recife. A informação é do ministro da Defe­sa, Celso Amorim, que comunicou à Comissão Nacional da Verdade que processos de sindicância no Exérci­to, Marinha e Aeronáutica já foram abertos, e a expectativa é de que o resultado saia até o fim deste mês. O anúncio de investigações nas for­ças acontece no mesmo dia em que a Anistia Internacional lançou cam­panha coletando assinaturas para a revisão da Lei da Anistia.

Portando cartazes com fotos de desaparecidos políticos%2C manifestantes saíram às ruas do Rio para protestar contra o golpe militar

Portando cartazes com fotos de desaparecidos políticos%2C manifestantes saíram às ruas do Rio para protestar contra o golpe militar

Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia

Presidente da Comissão da Ver­dade, Paulo Abraão disponibilizou os ofícios encaminhados pelo minis­tério com as providências adotadas. No documento, assinado pelo co­mandante do Exército, general Enzo Martins Peri, ele informa a Amorim a abertura do procedimento inves­tigatório, “considerando a impor­tância e urgência que o assunto re­quer”. A investigação pelos militares dos crimes cometidos na ditadura é antiga aspiração da Comissão da Verdade. Pedido neste sentido foi formalizado ao Ministério da Defe­sa no dia 18 de fevereiro.

No Rio, as quatro unidades mi­litares investigadas são as seguin­tes: 1ª Companhia da Polícia do Exército, Base Aérea da Ilha das Flores, Base Aérea do Galeão e DOI (Destacamento de Operações e In­formações do Exército).

Nesse clima, de bons ares de­mocráticos na busca da verdade na era da repressão, a artista plástica Cristina Pozzobon inaugurou on­tem escultura de aço naval, com 2,5 metros de altura, em frente ao Clube Militar, na Cinelândia. Feita para lembrar os militantes cassados após o golpe de 1964, a obra foi batizada de “Monumento ao nunca mais: ho­menagem à resistência brasileira e à luta pela anistia”. “A sociedade brasileira não aceita mais a ruptura democrática à força. A violência de uma ditadura não se mede pela pi­lha de corpos que produz, mas pela cultura autoritária que ela projeta ao longo do tempo. Me parece du­ro reconhecer que nós demoramos quase 50 anos para superar a cultura do medo de discutir o passado livremente”, afirmou Abraão.

A comissão é uma das autoras da iniciativa junto com a ONG Ali­ce. A artista plástica que produziu a obra explicou que a escultura foi criada para conceber tanto o mo­mento como as vítimas. “As estrelas representam as pessoas afastadas da nossa história”, disse Cristina. Durante o ato, estiveram presentes autoridades, ex-presos políticos e fa­miliares de vítimas da ditadura. Em um sinal claro, as portas do Clube Militar estavam fechadas.

A Anistia Internacional montou um posto de coleta permanente de assinaturas em frente à Câmara de Vereadores do Rio. Um dos primeiros a assinar a petição ontem foi Wadih Damous, presidente da Comissão do Rio. “Acho que começou a se criar lentamente uma coalizão de forças para revisar a lei, mas vai depender da nova composição do Congresso”, afirmou Damous.

CONFUSÃO E PRISÕES NO CENTRO DO RIO

Ato público no Rio terminou em confusão e prisões. Cerca de mil manifestantes participaram de uma caminhada da Candelária até a Cinelândia contra o golpe militar de 64. Houve princípio de tumulto em frente ao Clube Militar. Alguns manifestantes atiraram tinta nos PMs que protegiam o prédio e os policiais revidaram com bombas de efeito moral e spray de pimenta. Cinco pessoas foram presas. Focos de tumulto surgiram entre integrantes da União Nacional dos Estudantes e do PC do B, que trocaram socos e pontapés com militantes de outros partidos e representantes de mídias independentes que os insultavam.

“Eles dizem que somos capachos do Cabral, mas agem como a PM, querendo tirar a gente da rua, impedir o nosso ato. Se dizem comunistas, mas estão mais para nazistas”, disse um dos militantes da UNE.

O protesto começou interditando vias no Centro e seguiu para as escadarias da Câmara dos Vereadores. A Avenida Rio Branco ficou interditada, assim como a Presidente Vargas, sentido Candelária, a partir da Avenida Passos.

Um dos representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) presentes à manifestação, Rodrigo Assef, criticou a forma como a Polícia Militar agiu durante o protesto. “O diálogo com a PM foi muito difícil. Alguns dos policiais se recusaram a informar quem estava no comando da operação. Outros informavam errado. Todo tipo de informação que tentávamos obter se tornava inviável. Não conseguimos falar com os detidos e nem saber a cara de quem estava sendo preso. Isso é um absurdo”, protestou Assef.

Briga e tumulto na Câmara

Em Brasília, sessão na Câmara sobre o golpe acabou em briga entre partidários e contrários aos governos militares e foi suspensa. A solenidade foi interrompida quando duas mulheres que acompanhavam os discursos, uma que defendia os militares e outra que protestava contra o golpe de 64, trocaram empurrões e beliscões. Uma das agressoras terminou derrubada no chão. A briga entre as duas mulheres começou logo após um grupo favorável à ditadura levantar uma faixa na galeria do plenário que dizia: “Parabéns militares 31/ março - graças a vocês o Brasil não é Cuba”. No mesmo instante, convidados à solenidade contrários ao golpe militar levantaram cartazes com a imagem de pessoas perseguidas pela ditadura e protestaram com gritos de “Assassinos!”. Os dois grupos trocaram acusações.

Uma mulher que se identificou como Ivone Lousado, presidente da União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas, segurava um cartaz dentro do plenário que pedia “respeito e valorização aos profissionais militares”. Em meio à gritaria dos protestos, a assessora parlamentar Rosa Ciminiano se aproximou e rasgou o cartaz de Ivone. O deputado Domingos Dutra (SDD-MA) se aproximou e tentou apartar a briga. Na vez do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), defensor das Forças Armadas, começar seu discurso, grupo de parlamentares virou as costas e novo tumulto teve início e acabou provocando suspensão da sessão.


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