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Taxas de financeiras chegam até 845% ao ano

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iG

Renda de clientes é usada como garantia de pagamento

São Paulo - Financeiras que emprestam dinheiro para quem tem nome sujo encontraram uma forma de conceder crédito de baixo risco, a juros exorbitantes. Mesmo sem fazer consignado, usam a renda do cliente como garantia de pagamento, cobrando taxas de até 845% ao ano. O artifício consiste em debitar a dívida da conta corrente em que é depositado o benefício do INSS ou o salário do servidor público. Se o cliente se negar a vincular o pagamento à conta, não tem o dinheiro liberado.

No crédito consignado, o desconto é feito direto na folha, com o limite de 30% da renda, estabelecido por lei. Mas há casos em que limite é burlado. “Você pode usar até 53% do benefício, não só os 30% do consignado. Dependendo, a gente consegue liberar até mais pra você”, explicou uma atendente da Crefisa, em uma loja do centro de São Paulo.

No Centro do Rio e da capital paulista é muito comum encontrar panfletadores com promessas de crédito fácil. “Dinheiro em até 24 horas” e “Não consultamos Serasa nem SPC” são frases sempre usadas.É só retribuir um olhar para ser conduzido a um recinto com ar condicionado, água e café. Lá, atendentes explicam vantagens e descontos de até 70% se pagar antes, e se prontificam a responder perguntas.

As financeiras oferecem crédito fácil para consumidores que estão negativados e cobram juros altos

As financeiras oferecem crédito fácil para consumidores que estão negativados e cobram juros altos

Foto: Agência O Dia

Quando a dúvida é sobre juros, não há resposta imediata. “Você tem de fornecer o número do benefício para avaliarmos caso a caso”, disse uma atendente da Agiplan, que aceita negativados.

No crédito pessoal não consignado, a Crefisa cobrava juros médios de 20,05% ao mês (ou 796,21% por ano) e a Agiplian, de 20,59% ao mês (845,73% ao ano), em janeiro deste ano, segundo o Banco Central. O limite do consignado do INSS é de 2,14% ao mês.

Várias financeiras ficam em locais de grande movimento. Por ali passam pessoas de todas as condições financeiras e idades. Mas o principal alvo é quem mais sofre com a inadimplência: o aposentado. O crédito consignado para segurados INSS é a modalidade que mais resiste à queda de calotes, que foi generalizada no ano passado.

Débito cresce mesmo com pagamento

A servidora Marlene Rocha (nome fictício) comprometeu 47% do salário de R$ 1,6 mil com empréstimo na Crefisa. Com o marido desempregado, ela precisava de R$ 2 mil para quitar contas de telefone e cartão de crédito.

Marlene pagou as duas primeiras parcelas do empréstimo a taxa combinada de 14,5% ao mês. Quando quis zerar a dívida para ter desconto, descobriu que o débito só crescia: de R$ 2 mil, foi a R$ 6 mil, em três meses.

Ela denunciou ao Banco Central e, só depois, conseguiu fazer acordo para encerrar a dívida. Segundo Marlene, os descontos são feitos a qualquer momento, sem aviso prévio. “Minha divida é de R$ 750 por mês. Se entrarem R$ 450 na conta, debitam logo”, diz.

Procurada, a Crefisa informou que não se pronuncia sobre a prática de conceder crédito vinculando a conta do cliente a um benefício.

Advogado considera prática imoral

Apesar de não descontar da folha de pagamento, como faz o consignado, vincular a dívida a um benefício é prática quase livre de risco, na opinião do advogado especializado em direito bancário e do consumidor, Alexandre Berthe. “Não é uma prática ilegal, mas imoral”, afirma o especialista.

Para o advogado e sócio do Bornholdt Advogados, Juliano Scarpetta, não há nada de errado em cobrar taxas acima da média do mercado para quem está negativado. “Mas cobrar 20% ao mês é abuso. É passível de revisão na Justiça”, diz, ressaltando que as instituições financeiras não podem exigir que uma pessoa vincule um benefício a sua conta bancária.

A coordenadora geral de pagamento de benefícios do INSS, Célia Medeiros, informou que não compete à Previdência fiscalizar as instituições financeiras.

Reportagem: Taís Laporta


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