Aurélio Gimenez
Apesar do volume, grupo reclama da falta de serviços públicos como rede de esgoto e águaRio - Apesar de consumirem R$ 1,17 trilhão por ano, os novos emergentes — formados por famílias que integram as classes C, D e E — ainda cobram melhores serviços públicos dos governantes. A despeito do exponencial aumento da renda do grupo nos últimos dez anos, o levantamento promovido pelo Instituto Data Popular constatou que 42% das residências, ou 19,4 milhões de pessoas, não têm rede de esgoto. Ainda há 3,2 milhões de pessoas (7%) que vivem sem água encanada; e 9,2 milhões (20%) que não recebem coleta de lixo.
“Chamo esse grupo de emergentes, mas que apesar das ascensão econômica, ainda não tem os serviços públicos adequados. Apesar de serem regra, ainda são vistos como exceção pelas grandes empresas. Mas, eles são o verdadeiro mercado brasileiro, que mantém o consumo em alta em todo o país”, aponta o presidente do Data Popular, Renato Meirelles.
Segundo ele, a soma das classes C, D e E formaria um país imaginário que seria a 16ª nação em consumo no mundo. Meirelles lembra a participação do conjunto das favelas do Rio nesse movimento. Com população de 1,7 milhão de habitantes em cerca de mil comunidades, os consumidores dos morros cariocas movimentam R$ 13 bilhões por ano, quase 30% de tudo o que é gasto em todas as favelas do país.
Microempreendedora Salete Martins%2C após fundar a Rio Favela Tours%2C na comunidade Santa Marta%2C conseguiu conquistar a casa própria
Foto: João Laet / Agência O Dia
Boa parte desse consumo se deve ao crescimento da classe C nesses locais, que em 10 anos, passou de 45% para 66% da população. “É a participação dos moradores das favelas do Rio. Temos 13% de moradores das classes A e B e 66% de classe C morando em comunidades. Isso leva ao surgimento de um mercado gigantesco de consumo, que quer comprar produtos que antes só eram encontrados no asfalto”, destaca Meirelles.
O presidente do Data Popular ressalta ainda a importância do jovem (entre 15 e 25 anos) no consumo das famílias cariocas. Segundo ele, esse pessoal movimenta com o próprio salário R$ 5 bilhões por ano na economia fluminense. “São pessoas ávidas por consumir produtos e lazer, e investir na carreira profissional. O grupo ganha cada vez mais relevância econômica dentro da família, cuja renda somada é de R$ 2,5 mil”, diz o comunicólogo com MBA em gestão de negócios.
Meirelles explica que a maioria tem cartão de compras e ajuda financeiramente em casa: 70% possuem cartão de débito, 69% de crédito e 54% cartão de lojas. Já 23% fazem as compras do mês da casa, 22% pagam todas as contas e 64% são responsáveis por adquirir itens de tecnologia.
“Essa geração dá muita importância ao consumo, pois gosta de se sentir incluída ou pela aparência e pela moda ou pelos locais que frequenta”, diz, complementando: “R$ 5 bilhões é muito dinheiro em qualquer cidade do mundo, ainda mais aqui no Rio de Janeiro”.
Microempreendedora confirma pesquisa
Microempreendedora e fundadora do Rio Favela Tours, na comunidade Santa Marta, Salete Martins, 44 anos, confirma o levantamento do Instituto Data Popular. Antes de criar o projeto com mais três guias, por 15 anos ela vendeu sanduíches em trailer na região.
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Foto: Agência O Dia
Para evoluir financeiramente, se dedicou aos estudos, formando-se em técnica de turismo, quando surgiu o projeto dentro da própria comunidade onde mora com o marido e dois filhos. “A vida ficou muito melhor, estou agora colhendo os frutos do meu trabalho. Até uma casa própria já consegui comprar”, diz a microempresária.
Para melhorar a comunicação com os visitantes estrangeiros, ela agora estuda francês, inglês e espanhol. Salete diz que boa parte dos seus pagamentos é feito por meio de cartões de crédito e débito e que comprou uma TV de plasma usando o crediário.
“É muito mais fácil comprar dessa forma, as facilidades de pagamento são ideais”, explica. Agora, ela conta que pretende fazer um financiamento para para investir na publicidade da empresa.
Gasto do grupo é alto, mas pode crescer mais
Apesar da evolução dos bens entre as classes C, D e E, a maioria das famílias ainda não tem máquina de lavar. Em 2004, apenas 26% tinham o equipamento. Dez anos depois, 49% possuem o bem, possibilitando um enorme mercado consumidor para a indústria e as empresas varejistas.
Presidente do Data Popular, Renato Meirelles diz que 44% dos entrevistados afirmaram que, em algum momento de suas vidas, “faltou dinheiro para comprar comida”. Por outro lado, o pesquisador cita que, com a melhora das condições nos últimos dez anos, hoje 60% dos computadores no país pertencem às classes mais pobres; 63% dos R$ 87 bilhões foram gastos em roupas; e 43% dos R$ 51 bilhões das despesas de viagens foram feitas pelos brasileiros das classes C, D e E.
Ciente do crescimento da renda dos moradores das favelas do Rio de Janeiro, o microempreendedor Antônio Costa abriu a primeira agência de viagens da Rocinha, a Voar Bem. Cearense, ele veio novo para a cidade e sempre ouviu os trabalhadores reclamando que não conseguiam viajar para a terra natal. Agora, o administrador promove o sonho dos conterrâneos: “Pagamento em suaves prestações.”