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Moacyr Luz: A Madame e o Samba

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O Dia

A data é marcante. Quadras lotadas e velas acesas pra Silas de Oliveira, Noel Rosa, Geraldo Babão e Jamelão

Rio -  O batuque está na moda. Nesta segundam, comemora-­se o Dia Nacional do Samba. Distante dos cassetetes doídos do século XX, já conheci pais atrevidos apostando todas as fichas no menino pagodeiro: — Serei o empresário! Diploma não dá camisa a ninguém!

Na contramão, a madame, engomado o deboche, traduz um sentimento de outras épocas. Diz “que a raça não melhora e que a vida piora por causa do samba”. Pra que discutir com Madame?

Orixás de carne o osso, Monarco e Nelson Sargento guardam histórias escritas na pele, marcadas no olhar de quem sobreviveu ao tronco de uma elite preconceituosa. Nelson Sargento foi pintor de paredes. Morou parte da vida no Morro de Mangueira, teve 11 filhos e trabalhou pesado desde os 10 anos de idade. Em 2014, serão 90 primaveras, a mesma palavra que o consagrou em 1955 no Carnaval da Verde e Rosa.

Deve ter sido o primeiro da Praça XI. Monarco nasceu em Cavalcante, mas, no seu mapa pessoal, céus e mares apontam pra Portela, Oswaldo Cruz, Madureira. Foi peixeiro, vendeu palha de aço e nos 70 ainda suava como guardador de carros no Jornal do Brasil.

Guerreiro, lidera a velha guarda da escola. Um timbre de causar inveja a três tenores, me conta um caso emblemático, pós “Pelo Telefone”. Mijinha, compositor da Azul e Branca, sustentava a casa como ladrilheiro, profissão na carteira. Perto do almoço, uma pausa pra aquecer a reluzente marmita. Distraído, não percebe o cachorro da madame, língua e focinho enfiados no arroz e feijão requentado e ganindo de felicidade.

Atordoado, deduz­se um diálogo: — Senhora, desculpe o problema, mas o pastor alemão da casa devorou o meu almoço... Ai, meu Deus! Socorro! Chamem um veterinário!

O tempo passou. Onde se lia “aulas de oboé” se esbarram mestres livres pra agogô e ganzá. Não descem mais os morros. Nascem de condomínios, chatôs e playgrounds. Pelo contrário, longe de ser discriminatório, ergue­se outra pedra nessa construção cultural: o Brasil tirou o henê da cabeça! A data é marcante. Quadras lotadas e velas acesas pra Silas de Oliveira, Noel Rosa, Geraldo Babão e Jamelão. Flores em especial a Délcio Carvalho, grande cavaleiro dessa cruzada chamada samba.

E-mail: moaluz@ig.com.br


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