Luisa Bustamante
Em entrevista, geógrafo britânico aponta contradições nas grandes cidades, como o RioRio - O geógrafo britânico David Harvey aponta para uma contradição nas grandes cidades que, como o Rio, têm recebido grandes investimentos: a fartura de capital acaba beneficiando poucas pessoas e excluindo os mais pobres. Ele veio ao Rio lançar o livro ‘Os limites do capital’.
Geógrafo britânico David Harvey
Foto: Luisa Bustamante / Agência O Dia
Como o sr. analisa os protestos no Brasil?
Não devem ser vistos de forma isolada. O gatilho é algo pontual: aqui foi o preço das passagens. Mas isso faz parte um padrão global de descontentamento, porque o capital vai muito bem enquanto as pessoas vão mal. Nos Estados Unidos, desde 2008, ricos vem enriquecendo, enquanto o resto da população vive com a degradação dos serviços públicos. O sentimento geral é que as pessoas pagam por algo que é usufruído por poucos.
Qual a sua opinião sobre os black blocs?
O Estado é o principal inimigo deles, o que leva a depredação de prédios públicos e outras formas de violência. Mas é muito pouco provável que não haja entre eles agentes políticos infiltrados que estimulem atos de violência, que, depois, legitimam a repressão do Estado.
Como o sr. explica o desenvolvimento desigual das cidades?
O capital, que anda excedente, adora mega projetos. Principalmente os associados a mega eventos como os que ocorrerão no Rio. O problema é que, ao mesmo tempo, há o empobrecimento de uma camada enorme da população, que não é incluída no desenvolvimento e não tem acesso a serviços básicos.